Os cistos mamários são uma das alterações funcionais benignas mais comuns da mama, ocorrendo principalmente no período de menacme entre 20 e 50 anos (que é o período em que a mulher normalmente menstrua, em média), embora existam alguns tipos de cistos que possam ocorrer até os 90 anos de idade. Ele nada mais é do que a proliferação do estroma fibroso (tecido mamário que não produz leite) com a dilatação dos ductos (canais dentro da mama onde o leite materno circula) e o acúmulo de secreção mamária.
Foi relatado a primeira vez em 1831 e tem incidência na população feminina em torno de 7 a 10%. Tendem a sumir na menopausa, mas quando persistem nessa idade, geralmente está associado ao uso de Terapia de Reposição Hormonal (TRH). Em casos específicos, as pacientes idosas que aparecem com novos cistos mamários devem ser abordadas para se descartar algum tumor produtor do conteúdo do cisto.
Os pequenos cistos mamários não resultam em nenhum risco específico para o aumento de chance de se desenvolver o câncer de mama. Geralmente são assintomáticos e quando palpáveis, são amolecidos na maioria das vezes.
Podem ser classificados em cistos simples, complicados, microcistos agrupados e cisto complexo. O exame de imagem de escolha para o diagnóstico e a diferenciação dos cistos é a ultrassonografia das mamas. É um método de imagem indolor e sem radiação, que consegue mostrar em tempo real os achados dos cistos e guiar procedimentos diagnósticos como a punção do cisto, biópsia de fragmento (core biopsy) ou biópsia `vácuo, tendo cada procedimento a sua indicação a depender do achado e da composição do cisto.
Não existe tratamento medicamentoso com a finalidade de redução ou esvaziamento dos cistos mamários. Na maioria dos casos, os cistos requerem apenas acompanhamento e a sua remoção cirúrgica fica reservado a situações especiais (p. ex. várias recidivas após punção, componente sólido suspeito intracístico, crescimento do volume do cisto em acompanhamento e resultado de biópsias de cisto com histologias de risco).
A mastalgia (ou dor na mama) é a queixa mais comum no consultório do mastologista. É um sintoma que pode aparecer das mais variadas formas e intensidade, relacionada ao esforço físico ou relacionada ao período pré-menstrual. Pode ser ainda cíclica (ou seja, recorre em um período específico e conhecido) ou não-cíclica, causada por fatores da mama ou fatores extra-mamários.
A dor na mama mais comum e a mais frequente é a mastalgia cíclica que é a dor na mama que está relacionada ao período pré-menstrual. Costuma ser bilateral e ocorrer dos 20 aos 40 anos, geralmente desaparece após os 45 anos. Tem como causa determinante a variação hormonal e a retenção de líquidos, além de modificação da estrutura interna da mama, preparando-se para a gravidez. Fatores que pioram a dor estão ligados principalmente à ingestão de metil-xantinas e o estresse, de uma maneira geral (ansiedade, depressão, receio do diagnóstico do câncer, dentre outros).
A mastalgia acíclica de causa mamária não tem correlação com o período menstrual e geralmente é unilateral, localizada ou não; tende a surgir mais tardiamente (após os 40 anos). Pode estar relacionada com traumas, infecções, cirurgias anteriores na mama, tumores grandes ou mamas volumosas. Eventualmente relacionada a terapia de reposição hormonal (TRH).
Já a mastalgia acíclica de causa extra mamária tem causas relacionadas ao tórax da paciente (dores musculares, articulares, fibromialgia, problemas de coluna etc.).
Uma consulta médica detalhada, abordando questões relacionadas às características da dor na mama certamente guiarão o mastologista na correta identificação da causa da dor. A depender dos achados do exame físico das mamas e da idade da paciente, é realizada a investigação necessária para a exclusão de causas mais sérias, mesmo que na grande maioria dos casos não se encontrem alterações nos exames das mamas.
Medidas como uso de sutiãs adequados, redução da ingesta de café, chás, refrigerantes tipo cola e etc., além de orientações verbais geralmente são suficientes nos casos de dor nas mamas leves associados ao período pré-menstrual. O Tratamento medicamentoso fica reservado a casos de mastalgia mais intensos. Já nos casos de dor na mama acíclica, o tratamento direcionado é resolutivo.
A palavra mastite significa inflamação das mamas e pode ser decorrente de vários fatores como traumas ou pancadas, tabagismo, infecções por bactérias ou vírus, fatores autoimunes, substâncias químicas e, em alguns casos, podem simular um tipo específico de câncer (carcinoma inflamatório da mama). Podem ser divididas em lactacionais (relacionadas ao período de amamentação) ou não lactacionais (todas as demais).
A investigação diagnóstica das mastites deve começar por uma anamnese detalhada, procurando relacionar fatores cronológicos ou desencadeantes do processo. Geralmente o diagnóstico é clínico e o tratamento baseado na história colhida e nos sintomas apresentados pela paciente (por exemplo, antibióticos na suspeita de infecção bacteriana – a mama fica inchada, quente, com ou sem abscesso e a paciente apresenta febre).
Em casos específicos, pode ser necessária uma biópsia tecidual para fazer o diagnóstico diferencial de algumas mastites (no caso da mastite granulomatosa) e ainda, descartar o carcinoma inflamatório, que é uma apresentação clínica especial do câncer de mama (a biópsia é mandatória nos casos em que a mama se apresenta com pele edemaciada e vermelha, com aspecto de casca de laranja e geralmente indolor ao toque).
Os fibroadenomas são nódulos/tumores benignos da mama e que têm origem na proliferação das células mamárias (estromais e ductais). Podem ser únicos ou múltiplos. São sólidos e de consistência fibroelástica, móveis (não são aderidos à glândula) e bem delimitados. São o segundo tipo de tumor mais frequente, ficando atrás apenas do carcinoma (câncer de mama) em incidência.
Geralmente são indolores e com tamanho de até 3,0 cm, podendo apresentar crescimento acentuado a depender da carga hormonal da paciente (idade, gravidez e período de amamentação). O pico da incidência do fibroadenoma ocorre até a terceira década de vida, sendo muito raro após a menopausa. Ocorre majoritariamente em mulheres e nos homens é muito raro.
O fibroadenoma pode ser classificado em Fibroadenoma Juvenil (maior que 5,0 cm, até 20 anos de idade), Fibroadenoma Gigante (maior que 5,0 cm, após os 20 anos), Fibroadenoma Complexo (associado a outras histologias – aumentam o risco para câncer de mama) e Fibroadenomas Extra-mamários (em mama acessória, por exemplo). Podem ser classificados histologicamente em intracanaliculares ou pericanaliculares, sendo esta diferenciação baseada na forma de proliferação do tecido mesenquimal do tecido mamário.
O diagnóstico imaginológico é realizado através de mamografia (fibroadenomas calcificados – em “pipoca”) e ultrassom das mamas. Os aspectos do fibroadenoma neste último são de nódulos ovalados e de contornos regulares, hipoecóicos, homogêneos e com sombras laterais. A core biopsy é o método de diagnóstico de eleição para lesões mamárias, sendo o fibroadenoma incluído neste rol de indicações.
A conduta frente ao fibroadenoma vai depender da idade da paciente ao diagnóstico, do tempo de evolução e do crescimento do nódulo, além do seu aspecto. A cirurgia deve ser realizada em casos de fibroadenomas volumosos ou em crescimento, e quando existir a possibilidade de excluir o tumor filóide benigno (nódulo volumoso e de rápido crescimento em pacientes acima da quarta década de vida, sendo um diagnóstico diferencial com fibroadenoma hipercelular).
A secreção no mamilo ou descarga papilar é uma queixa comum no consultório do mastologista, ficando atrás apenas da mastalgia e dos nódulos palpáveis. Deve ser valorizada, já que em alguns casos significa a presença de tumores de mama que se apresentam apenas através da secreção no mamilo.
A descarga papilar pode ser fisiológica, lactacional (no período da amamentação), patológica (significa doença) e galactorréia não gestacional.
O diagnóstico e a investigação devem levar em conta alguns fatores: período em que ocorre a secreção papilar (se paciente no período gestacional ou lactacional), idade da paciente, histórico de traumas recentes na mama/manipulação do mamilo, presença de doenças sistêmicas no indivíduo, o uso de medicações e por fim, as características desse fluxo papilar. Essa caracterização deve ser baseada na lateralidade (uni ou bilateral), cor da secreção papilar (se esverdeada, amarelada, marrom escuro, transparente ou sanguinolenta), se sai por vários ductos ou apenas em um. E o principal, se é espontânea ou se depende da expressão do mamilo (este ato deve ser desencorajado). A secreção papilar em homens pode ser a única manifestação clínica do câncer de mama nesse grupo populacional.
O exame físico deve ser minucioso com tentativa de identificar o ponto de gatilho (região que se comprimida, libera a secreção em questão), com atenção especial às características do mamilo. Há necessidade de excluir o carcinoma de Paget, que é uma neoplasia maligna que se caracteriza por um ferimento progressivo no mamilo, que não cicatriza e é indolor.
Importante destacar que a coleta da secreção para realização da citologia do papilar e a ductografia usadas no passado, têm baixa sensibilidade e estão em desuso.
Já os exames de imagem têm papel importante na investigação dos fluxos papilares patológicos. A mamografia, tomossíntese, o ultrassom e a ressonância magnética de mamas são importantes armas na investigação dos fluxos papilares patológicos ou suspeitos, sempre com o objetivo de tentar diagnosticar nódulos, microcalcificações, dilatações ductais ou realces não-nodulares que estejam relacionados ao fluxo papilar.
Nos casos de fluxos papilares não patológicos (lactacionais, relacionados ao uso de medicações, não espontâneas) devem ser apenas acompanhados.
Nos casos de descargas papilares suspeitas (uniductais, unilaterais, espontâneas, sanguinolentas ou transparentes) o diagnóstico definitivo é feito através da biópsia tecidual, seja de uma lesão correlacionada identificada (core biopsy, mamotomia, biópsia cirúrgica excisional), seja da ressecção dos ductos terminais cirurgicamente, englobando o ponto de gatilho da descarga papilar.
A mama supranumerária/mama ectópica ou mama acessória é uma alteração anatômica muito comum e benigna presente em sua grande maioria no sexo feminino, e significa a presença de tecido mamário fora da parece torácica (local anatômico das mamas). É causada pela regressão incompleta ou permanência do tecido mamário ao longo da linha láctea, originada na 6ª semana de gestação e que desaparece após a 9ª semana.
Pode se apresentar apenas o(s) mamilo(s) (politelia) (o mais comum), só com tecido mamário ou com tecido mamário + aréola e mamilo (polimastia). A sua localização se dá nas regiões das axilas ou na linha láctea até a virilha (o menos comum).
Tem as mesmas caraterísticas histológicas (células) das mamas normais e por esse motivo pode apresentar sintomas nos períodos pré-menstruais (no caso de polimastia). Essa alteração da normalidade não está relacionada ao aumento da incidência de câncer de mama.
O tratamento é cirúrgico, com remoção apenas do tecido acessório mamário.
Também conhecida por Hipertrofia Mamária Masculina, que significa o crescimento das glândulas mamárias nos homens, a ginecomastia é uma alteração benigna que acontece em pacientes deste sexo. Pode acontecer em ambas as mamas (mais frequente) ou somente unilateral. Deve ser diferenciada de lipomastia ou psedoginecomastia, que é o acúmulo de tecido adiposo na região mamária masculina sem o desenvolvimento da glândula.
Pode ocorrer em diversas fases da vida, sendo mais comum na adolescência e na fase adulta após os 50 anos. As possíveis causas de ginecomastia verdadeira podem ser fisiológicas (principalmente nos extremos de idade), devido ao uso de drogas ou medicamentos (antiretrovirais, anabolizantes, diuréticos, medicações para acidez estomacal, neurolépticos, estatinas, dentre outros) e idiopática (sem causa aparente). Outras causas menos frequentes são cirrose, tumores testiculares, hipertireoidismo e hipogonadismo (relacionado com a testosterona).
É importante salientar que a ginecomastia não é um nódulo mamário verdadeiro, embora na palpação exista essa impressão. Há necessidade de investigação das suas causas através de uma anamnese detalhada, exames laboratoriais e de imagem para excluir neoplasias (na mama ou fora dela).
O tratamento da ginecomastia pode ser expectante (pois ela pode regredir espontaneamente), medicamentoso (embora haja controvérsias sobre sua eficácia) e cirúrgico (nos casos de mamas volumosas e com repercussão psíquica e social para o paciente).